Anjo Tintas relata impacto de cerca de 80% a menos no faturamento devido à falta de insumos. Companhia Metalgraphica Paulista, pioneira ao produzir embalagens de aço, e Embalagens Urussanga, fornecedora de papelão, relatam problemas para adquirir insumos
Na última quinta-feira (3), o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,7% do 3º trimestre na comparação com os três meses anteriores. O setor de indústria cresceu 14,8% e o de indústria de transformação 23,7%. Apesar de a indústria acumular queda no acumulado do ano de 3,9%, o crescimento mostra que o setor vem se recuperando em relação ao segundo trimestre.
Mesmo com a recuperação, a indústria vem sentindo o impacto da escassez de matéria-prima em diversos segmentos, além da alta de preços. Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que em outubro a falta de insumo atingiu os maiores patamares desde 2001 em 14 dos 19 segmentos da indústria.
Diante do cenário, muitas empresas tiveram que reduzir o ritmo da produção. Quem consegue produzir normalmente, enfrenta a falta de embalagens. Por consequência, a escassez e o câmbio desvalorizado têm impactado na alta de preços.
A Anjo Tintas, indústria de tintas no mercado há mais de 30 anos, tem sentido os reflexos da falta de insumos e embalagens. A empresa tem enfrentado a falta de embalagens metálicas, papelão e plásticos. Além disso, está pagando muito mais caro em resinas, embalagens, aditivos e pigmentos.
“O crescimento poderia ser muito maior. Poderíamos estar faturando cerca de 80% a mais de julho até dezembro caso não estivéssemos enfrentando a falta de embalagens e matéria-prima no mercado. Além da escassez para a produção de tintas, há também uma inflação generalizada nos insumos, o que deve levar para um cenário de alta de preços e incertezas para 2021”, explica Filipe Colombo, CEO da Anjo Tintas.
A Companhia Metalgraphica Paulista, pioneira ao produzir embalagens de aço no país e uma das empresas fornecedoras de latas de aço da Anjo Tintas, também tem sentido os impactos da falta de insumos e alta dos preços no mercado.
“Desde junho, a demanda acelerou muito e de forma muito rápida devido a vários fatores como aumento do poder de compra do brasileiro com o auxílio emergencial e o fato de as pessoas estarem mais tempo em casa e quererem fazer reformas ou investir no home office. Com a falta de insumos no mercado, os preços subiram muito. Tivemos que fazer malabarismos e estivemos aquém do nosso nível de atendimento. Acreditamos que no começo de 2021 teremos uma normalização da entrega de aço e um reequilíbrio dos preços”, explica José Villela, vice-presidente da Companhia Metalgraphica Paulista.
Para Edivaldo Mendes, diretor comercial da Embalagens Urussanga, empresa que fornece papelão para o transporte dos produtos da Anjo Tintas, a situação em relação ao reabastecimento do mercado de papelão só deverá se normalizar no meio do ano que vem. “A demanda aumentou muito e desde julho, estamos produzindo 50% a mais do que produzíamos devido a ampliação e aceleração da nossa produção e uso do estoque. Estamos com dificuldade para adquirir bobinas de papel, que estão em falta no mercado nacional. Sentimos cerca de 80% de aumento de preço em relação às matérias-primas”, complementa.
A Anjo Tintas, mesmo em um ano de crise econômica no país devido ao avanço da Covid-19, espera faturar neste ano R$ 600 milhões, valor acima do esperado devido à crise e que se deve também à retomada da economia e ao desejo do consumidor de investir mais em reformas em casa, por exemplo. No total, o crescimento chega a cerca de 10% no ano, com destaque para a linha de tintas automotivas (+21,5%), imobiliária (+16%) e tintas para embalagens (+15%).