Em tempos de recessão, inflação e ameaça de escassez de alimentos, o termo shelf life (tempo de prateleira em tradução livre) se torna cada vez mais popular. Novas tecnologias têm aumentado a vida de prateleira dos produtos e diminuído perdas. O emprego de embalagens e tecnologias podem otimizar o custo dos produtos e atender a mais pessoas. De acordo com a diretora do Instituto de Embalagens, Assunta Napolitano Camilo, seria possível reduzir a fome mundial, que atualmente atinge mais de 440 milhões de pessoas, sendo que 250 milhões já estão à beira da inanição, segundo uma reportagem veiculada pela The Economist, em 31 de maio de 2022. Para piorar este quadro, a atual guerra na Europa deve aumentar este número para um bilhão e 600 milhões de pessoas.
O shelf life refere-se ao prazo de validade de determinado produto na prateleira antes da perda de suas características e qualidade. Trata-se da vida útil, que compreende o período entre a produção até o consumo do produto. Muitos fatores podem influenciar o shelf life, como matéria-prima utilizada na produção, condições de armazenamento, micro-organismos, temperatura, umidade e exposição à luz, inclusive a embalagem.
Assunta Napolitano Camilo enfatiza que “hoje há várias tecnologias que aumentam o shelf life de um produto, entre elas está agregar ou aumentar a barreira da embalagem. Isso pode ser feito de várias formas para embalagens de papel, papel-cartão, papelão ondulado, aço, vidro e plásticas flexíveis ou rígidas.”.
Estas barreiras podem ser incluídas por aplicação direta, na parte interna ou externa da embalagem de qualquer material. Podem ser incluídos aditivos e masterbatches (pigmentos de embalagem) na massa em preparação quando se trata de embalagens plásticas ou de celulose.
“Pode-se também adicionar mais de um material, ou mais de uma camada, na embalagem, criando barreiras diferentes à embalagem final, embora isso possa comprometer a reciclabilidade. Podemos, ainda, aumentar a vida de prateleira, incluindo itens de segurança, por exemplo, nas tampas ou nos fechamentos.” completa Camilo.
Alguns exemplos:
A tecnologia de embalagem plástica com atmosfera modificada (MAP) tem grande impacto no shelf life dos alimentos e está cada vez mais presente no nosso dia a dia. Ela cria ou mantém uma atmosfera dentro da embalagem, com uma mistura de gases, na maioria das vezes dióxido de carbono e nitrogênio, que preserva a qualidade de alimentos frescos por mais tempo e estende o prazo de validade, propiciando menor desperdício. A embalagem com atmosfera modificada retarda o processo metabólico e desenvolvimento de micro-organismos no alimento, evita perda de líquido e mantém as propriedades organolépticas do produto, como cor, brilho, textura e sabor.
A embalagem plástica a vácuo, graças à retirada do oxigênio, preserva os alimentos sem o uso de conservantes, aumentando o seu shelf-life, sejam eles frescos ou processados. Essa tecnologia mantém inalterado o sabor, o aroma, a cor e as qualidades nutricionais do alimento.
As barreiras com camadas de polímeros preservam as características dos alimentos até o consumidor final. Elas proporcionam barreira ao oxigênio, à luz UV, gases, umidade, aromas, ar, vapor d´água ou gordura. Cada matéria-prima tem suas propriedades específicas para o tipo de alimento que vai ser embalado.
A embalagem de papel, papel-cartão e papelão ondulado pode utilizar revestimentos como barreira, de plástico ou outras resinas para proteger os alimentos congelados e resfriados.
A embalagem de vidro não altera sabor, odor, cor ou qualidade dos alimentos e bebidas, preservando a saúde do consumidor, com menos conservantes e estabilizantes. Como é impermeável, o vidro impede a ação de qualquer agente externo, o que aumenta o prazo de validade dos alimentos. Para isso é também necessário especial atenção às tampas e tecnologias de fechamento.
A embalagem de alumínio oferece barreira muito boa contra umidade, gases, contaminação e luz para alimentos e bebidas. Preserva as características dos produtos e aumenta a vida de prateleira, sem necessidade de refrigeração. É sempre importante cuidar da selagem ou fechamento para que esta barreira seja efetiva.
A lata de aço permite embalar alimentos sem conservante ou aditivo químico, por serem cozidos dentro da própria embalagem. Além disso, prolonga a vida útil dos alimentos nas gôndolas, sem refrigeração. Para isso, utilizam alguns produtos para revestir e proteger as paredes internas e evitar contaminação.
Segundo dados do Instituto de Embalagens, as embalagens plásticas a vácuo, skin e com atmosfera modificada são as que mais têm investido no segmento de alimentos.
Embalagem Inteligente
Uma embalagem inteligente, além de proteger os alimentos, monitora o seu estado de conservação e qualidade, evitando o desperdício e garantindo a segurança alimentar dos consumidores. Ela pode ser dotada de sensores para controlar a temperatura de conservação do produto, ou seja, é possível saber se o alimento foi exposto a condições inadequadas de armazenamento. A tecnologia permite detectar a deterioração ou o frescor dos alimentos ou ainda verificar o estágio de amadurecimento de frutas para melhor aproveitamento pelos consumidores. Mas são tecnologias ainda raras no Brasil.
Assunta Napolitano Camilo lembra que: “a embalagem é essencial para garantir a integridade dos alimentos em todas as etapas logísticas até chegar ao consumidor final. Também é responsável por promover melhor experiência de consumo, oferecendo praticidade e conveniência de uso, além de comunicar informações legais, no caso dos alimentos, bebidas e remédios. A embalagem tem ainda um importante papel nas gôndolas, já que para a maioria das marcas ela é a principal ferramenta para se conectar com os consumidores.”
A diretora do Instituto de Embalagens adverte que, além de aumentar a vida útil e tornar o transporte e armazenamento mais eficazes, as embalagens desempenham outro papel importante no ciclo de vida dos produtos. “A identificação correta, completa e clara do produto é muito importante para os consumidores. Trata-se de segurança alimentar e, claro, não podemos nos esquecer da sua relevância no caso dos remédios. A embalagem pode também ser inclusiva, pois existe tecnologia para agregar informações em Braille e por
QR Code ou Realidade Aumentada e, até mesmo, a linguagem de Libras.”.
Considerando as embalagens de transportes, quando desenvolvidas adequadamente, possibilitam a redução de perdas de produtos nesta fase. Hoje a embalagem também cumpre o importante papel de contribuir com a redução da pegada de carbono da indústria de produtos de consumo, no combate às mudanças climáticas com soluções circulares.