Em sua quarta edição, o Fórum ABRE de Sustentabilidade convidou marcas juntamente com toda a cadeia de valor, para se inspirarem e construírem a sustentabilidade na cadeia de consumo a partir das embalagens. Na abertura do evento realizada por Luciana Pellegrino e Marcos Barros, os líderes da ABRE falaram sobre a importância da agenda integrada entre todos os interlocutores.
Sereno Moreno, da Box 1824, apresentou pesquisa como o comportamento dos consumidores tem passado por transformações. Em sua palestra “Sustentabilidade: as dores, as demandas e os sonhos dos brasileiros”, ele apontou as agendas a serem priorizadas para criar condições de regeneração, além de elencar as ameaças do presente, como as demandas das pessoas por sobrevivência, as garantias do amanhã, dignidade, por exemplo, e as esperanças do futuro, por autonomia e aceleração de negócios.
Claudia Pires, da So+Ma, juntamente com Ligia Camargo, da Heineken, trouxeram a “Ciência do Comportamento para uma Agenda Positiva” que afirmaram “ter uma infraestrutura não garante a ação”. Para elas, a “informação não é igual a ação”. Ligia brincou que a sustentabilidade é o novo “puro malte da marca”, que pretende “fermentar um mundo melhor” e se empenhar para que a garrafa chegue ao próximo elo da cadeia.
Das empresas que mostraram seus cases, “Jornada de Sustentabilidade no desenvolvimento de embalagens da Beiersdorf”, apresentada por Rafael Alan Silveira, Head de Desenvolvimento da empresa, que é signatária dos principais movimentos globais e trouxe entre outros dados o custo de análise para garantir lote a lote o PCR (Reciclado Pós Consumo) nos cosméticos da empresa e seus cases de inovação em múltiplas frentes. A empresa criadora do centenário creme Nívea tem compromissos ambiciosos de 100% das embalagens recicláveis, reutilizáveis ou refilmagens e 50% de redução de plástico virgem de origem fóssil.
Inovação e Sustentabilidade na estratégia de Circularidade da Coca-Cola, foi o tema apresentado por Katielle Haffner. Ela afirmou que há diferenças entre as regiões do país em termos de estrutura e renda e que a empresa não tem medo de mudar os seus ícones para fortalecer a circularidade e criou um sistema de “serialization” com QR code para criar uma garrada universal que hoje está presente em 30 países.
Eles mostraram também cases como mutirão em praias e projetos em festivais de música, como Rock in Rio e Lollapalooza e como nesses momentos “só a lixeira não resolve”, é preciso criar trocas de resíduos por brindes, por exemplo. Uma das ações educativas apresentadas pela marca mostrava catadores classificando os produtos, no próprio evento.
Camila Borges, da I-Food apontou os caminhos para sustentabilidade no delivery, construindo colaborações. Ela trouxe em sua apresentação, os desafios das embalagens da marca que hoje gera 80 milhões de pedidos por mês. Para ela, o fato de “ser uma plataforma e gerar dados são de extrema importância para o entendimento do setor”. A I-Food tem entre os grandes sonhos hoje promover o consumo sustentável acessível para todos.
João Bosco, da Terphane, e Bart Langius, da Avantium, falaram sobre a proteção de menor impacto Ecophane e o case Therfane + Avantium. Eles afirmam que a chave para seu negócio é trocar a origem do carbono de debaixo do solo para acima do solo. O produto da empresa, um filme novo, tem compatibilidade mecânica, performance alta, fusão e resistência mais baixas.
Já Bruno Basso, da Reckitt, apresentou a “Jornada de Sustentabilidade na categoria air care: como inovar com novos materiais reciclados”. A empresa que tem 100 anos no Brasil mostrou um pet verde, sem adição da cor, com redução de 80% na quantidade de plástico, sem masterbath e refílável.
Sabrina Dixon-Ridges da Sonoco, que veio ao Brasil especialmente para o evento, mostrou “Avançando a reciclabilidade de latas de papel rígido e embalagens flexíveis” e contou um pouco sobre a evolução das terminologias, além de mostrar como criar soluções para que a embalagem não vá para o lixo. Para ela, “ser bio não basta, (o produto) não pode ser enterrado”. Ela também alertou que “grande volume de filmes PE, não estão sendo separados hoje”.
Marco Dorna, da Tetra Pak, e Giovanna Meneghel, da Nude, apresentaram o case “Economia Circular de Baixo Carbono”. Eles trouxeram alguns insights sobre a importância das empresas de alimentos e bebidas priorizarem esse tema ao desenvolverem suas estratégias de negócios.
Dorna demonstrou como a Sustentabilidade não é somente um drive na Tetra Pak, mas sim a própria estratégia da empresa. Já Giovanna falou sobre a importância da parceria entre as duas marcas para se chegar ao Net Zero não comprando créditos de carbono, mas na oferta de seus produtos, por meio de embalagens inovadoras.
A Dow apresentou a ciência da sustentabilidade em “Dow proporcionando um futuro melhor para o mundo por meio da nossa experiência em ciência de materiais”. Sabine Rossi, mostrou a transformação de posicionamento, baseada em ciência, ACV e auditorias externas. Ela afirmou que “não há bala de prata” e que “precisamos de rotas diferentes para resíduos diferentes”.
“A jornada rumo a Embalagem Sustentável” foi o tema da especialista Nikola Juhasz, da Sun Chemical, também no Brasil para o Fórum. Ela afirma que nenhuma empresa consegue ser sustentável sozinha e defendeu a análise do ciclo de vida como ferramenta para transitar de um cenário linear para um cenário circular.
A Polo Films trouxe “Desafios em atingir metas globais de sustentabilidade em embalagens flexíveis”. Jéssica Pereira Pires falou sobre os cinco objetivos da empresa: estimular o design para economia circular, gerenciar recursos para preservar valor, criar condições econômicas para a transição, investir em inovação, infraestrutura e competências e promover colaboração para mudança do sistema.
Já a L’Oreal, mostrou “Avançando uma agenda positiva”, por Camila Storell, Diretora de Embalagens LATAM da empresa e Ana Paula Toledo, da Wise Plásticos Conscientes. O programa Beauty Grade, que levou 3 anos de trabalho, contou com testes de stress para a checagem se a Wise garantiria o plástico não fosse contaminado. A proposta era a de juntas forças em nova metodologia com monitoramento de qualidade “bath to bath”. Da validação para a especificação de embalagem, passando para o controle do pellet, controle nos frascos, controle de segurança nos frascos para de volta a especificação das embalagens, ao todo 30 especialistas foram envolvidos no projeto, que contou com 28 testes de compatibilidade, 14 testes de homologação, 18 desenvolvimentos de cores e quase 30 mil amostras.
Natura trouxe o Programa “Natura Elos: 7 anos de aprendizados na prática sobre Economia Circular e cadeia de reciclados”, apresentada por Sérgio Talocchi, Gerente de Cadeias Sustentáveis, da empresa e Sueli Barbosa, Gestora de Projetos, do Espaço Urbano. Uma das maiores preocupações da empresa é em relação a rastreabilidade, que é essencial para a empresa. Ao todo foram reciclados, desde 2018, 15 mil toneladas, entre plástico, vidros e papel. Existem mais de 100 empresas no processo de reciclagem e 3000 catadores fornecendo direto para a Natura.
A empresa entende esses profissionais como empreendedores e se preocupa com a trajetória deles, “muitos não ganham uma renda digna”. A empresa opta por trabalhar com cooperativas e fica de olho na rastreabilidade. Para ele, nada disso adianta se “o consumidor não fizer o descarte de forma correta”.
Tarcio Borgo, da Cazoolo, trouxe a palestra “Descomplicando a busca das empresas pequenas e médias por soluções sustentáveis”. Em sua fala, o profissional trouxe um pouco sobre os novos conceitos de embalagens sustentáveis e sobre a proposta de criar um grande ecossistema de co-criação.
Alessandra Neves, da Avient, mostrou “Transformando Lixo em Tesouro”. A empresa conta com colab com seis grandes players e falou sobre aumento do conteúdo e qualidade do produto reciclado e como minimizar a geração de resíduo.
A Danone apresentou o case “Danone Circula”, por Sheila Montanari e Mariana Angotti. As especialistas contaram que a fábrica da Danone é considerada a primeira fábrica do mundo zero carbono, zero água e zero lixo. A empresa conseguiu chegar também a 50% de redução de plástico virgem. Elas contam que para movimentar volume, é necessário colaboração radical, o que inclui também trabalhar com a concorrência.
A Valgroup trouxe o case “Inovação Sustentável e Colaborativa: transformando as cadeias de consumo, através das embalagens responsáveis”, apresentado por Larissa D´Otaviano. Ela mostrou uma embalagem Stand up Pound, 100% reciclável, com hermeticidade e alta barreira a umidade para as cápsulas compostáveis e outros cases da última década, além de projetos educacionais em escola e cooperativas suportadas pela empresa para garantir um padrão digno social.
A Papirus trouxe um case de economia circular, apresentado por Christian Króes. O especialista contou sobre a jornada e propósito da empresa e comentou que a decisão de fazer um projeto com ciclo fechado requer muito. Ele também apresentou o projeto de harmonização da empresa de 14 gráficas, elo a elo, gerando dados.
O painel “Educação e Engajamento do consumidor para o descarte” trouxe Rafael Wiirz, Flormel, Luciana Amiralian, da Phisalia, Viviane Prereira, do Mundo Verde, Toninho Catador, do Conexão S.A e Robert Mortimer, da Laramara para debater sobre como comunicar e engajar o consumidor para o descarte consciente. No painel foi apresentado também o projeto Lupinha da ABRE, que completou um ano de mercado.
O Painel “Programas de coleta seletiva e educação da população para fortalecer a reciclagem”, com o Espaço Urbano e Munícipios contou com a presença de Vanderlon Gomes, Prefeito de Salesópolis, cidade onde nasce o Rio Tietê e da Prefeitura de Benevides, Luziane de Lima Solon de Oliveira, no Pará, além de da gestora de projetos Roseli Barbosa.
A prefeita paraense contou que o município, com o apoio da Natura, lançou o programa há um mês e estão orientando a população sobre a importância da destinação correta dos resíduos sólidos e como a cooperativa vem lidando com suas dificuldades de início de projeto. Eles contam com o apoio técnico do Projeto Recicla Brasil e da comunidade que luta para que as políticas públicas como essa, possam se expandir para outros municípios.
O prefeito de Salesópolis falou sobre o programa da cooperativa de catadores e a troca de resíduos por produtos com a “Loja do Bem”, que conta com parcerias com farmácias, postos de gasolina, entre outras. O projeto já trocou mais de 7000 moedas por produtos ou serviços e reduziram o lixo, que antes eram enviados para aterro sanitário.
Tiago Görski Lacerda, Prefeito da cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, apresentou o projeto Pila Verde e Pila Azul: Economia Circular, Qualidade de Vida, Sustentabilidade e Meio Ambiente, ambos ganhadores do Prêmio Sebrae Prefeitura Empreendedora. Ele contou como o projeto realiza troca pela produção local na feira verde e como o agricultor compra insumos para produzir com a pila verde na prefeitura. Com o projeto eles conseguiram realizar uma construção de cadeia agroalimentares e a tokenização do banco pila.
No Painel “Canvas da Embalagem Positiva”, apresentado por Lucas Bizarria, da empresa 3 Corações, Renata Mascarenhas e Camila Margelo, da RD Saúde e Isabela Russo Rodrigues, da Brainfarma, foram apresentados diversos insights sobre a origem do reciclado e sua destinação correta. A empresa 3 Corações falou sobre as oportunidades que puderam ser mensuradas e da experiência de abrir a conversa com fornecedores para trazer dados primários; RD Saúde trouxe a questão de como traduzir as metas institucionais nas métricas das embalagens. Já a Brainfarma contou que conseguiu reduzir em 50% as perdas fabris e que a ferramenta Canvas ajudou muito com isso.
Tim Breker, Co-Fundador Diretor Geral da Vytal, palestrou sobre reuso de embalagens na palestra “Unlocking the economic value of reusable packagin”. A startup que propõe reuso, afirma que “todo sistema circular precisa de dados e sem roadmap não é possível chegar ao fim da jornada”. De acordo com Breker, a starup viabiliza o código que permite a logística reversa das embalagens.
Ernst Krottenorfer, Sócio e Gerente da Circular Analytics, falou sobre a legislação europeia em “European Legislation – Packaging – Fit for 2030”. Ele trouxe um pouco da experiência europeia e como os desafios na legislação promoveram mudanças nas embalagens. Ele alertou que a partir de 2030 todas devem ter um mínimo de PCR, serem recicláveis e recicladas de acordo com os parâmetros estabelecidos na regulamentação.
Já Thomas Reiner, CEO da Berndt + Partner Group, apresentou uma perspectiva mundial em “Desafios e próximos passos”. Ele trouxe um dado importante sobre o mercado europeu: em pesquisa recente, questionados sobre os temas que mais o preocupam, as questões ambientais foram eleitas as principais preocupação dos alemães, mais que a guerra, por exemplo.
Ele também levantou temas como a legislação europeia, em evolução constante, e que traz a cada dia uma abordagem mais holística. Outro ponto apresentado pelo especialista foi a questão de as pessoas assumirem as responsabilidades nessa questão: “pessoas continuam achando que é dever do governo controlar e agir, e que decisões individuais vem em segundo lugar”. Ele citou alguns cases em que marcas mudaram a sua estrutura de embalagens tendo acesso a uma parte da informação e depois tiveram que reverter devido à pegada de carbono.
Tim Syker, da Packaging Europe, discorreu sobre “Perspectivas europeias, tendencias de sustentabilidade” e trouxe soluções como reuso e refil. Ele também falou sobre digital e design, integradas em conjunto em plataforma de inteligência artificial nos pós consumo e o fato da China estar à frente do resto do mundo no uso de inteligência artificial. Ele citou o case da Vytal, plataforma de reuso, que também foi apresentada no evento.
Entre os parceiros para realização do Fórum ABRE de Sustentabilidade 2024 Tetra Pak, Sonoco, ValGroup, Terphane, Dow, Sun Chemical, Papirus, Polo Filmes, Avient, CBA, Ball, MD Papéis, Futamura, Antilhas, Suzano, Ibema, Evertis, Klabin, Lord Embalagens, Yatto e Dassault Systèmes, Plastiweber, BioElements e SR Embalagens.