“Compartilhar conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de embalagens melhores para um mundo melhor”. Com esta afirmação Assunta Napolitano Camilo, diretora do Instituto de Embalagens, abriu mais uma edição do Workshop online Embalagem & Sustentabilidade, realizado nos dias 28 e 29 de abril, com a participação de 192 profissionais do setor.

“O que o mundo está entendendo que é melhor? A pandemia confinou a população em casa. Os sentimentos de medo, ansiedade e stress afloraram fortemente. Isso impactou no comportamento de compra dos consumidores. A data de validade e a tabela nutricional ganharam mais importância na hora do consumo de produtos. O clean label ganhou destaque na embalagem”, afirma Assunta.

O consumo consciente aumentou com as pessoas em casa, pois elas tiveram a real percepção dos resíduos gerados. “Houve maior conscientização sobre o descarte correto das embalagens. Outro efeito visível da pandemia é a perda de poder de compra da população. Isso impulsionou o crescimento de embalagens mais acessíveis. Quem ofereceu essa alternativa tornou-se mais competitivo, conquistando mercado”, revela a diretora do Instituto de Embalagens.

Por que falar de rotulagem ambiental? “A educação muda tudo. A rotulagem ambiental é o primeiro passo para educar o consumidor e melhorar o descarte de embalagens para a economia circular. No Brasil, um bom exemplo a ser seguido é o da marca Taeq, que orienta o consumidor como fazer o descarte e os catadores na triagem dos materiais”, ressalta Assunta.

Por que fazer análise de ciclo de vida (ACV)? “O objetivo desta ferramenta é estabelecer metas para reduzir o impacto ambiental das embalagens”, afirma Cláudio Marcondes, professor do Instituto de Embalagens. “Vários países têm usado a ACV. O Brasil ainda está caminhando. Alguns são mais exigentes, como a Alemanha e a França, que colocam a responsabilidade sobre a embalagem no produtor”, revela.

Design para a economia circular

A economia circular está no centro dos nossos negócios. “Utilizamos materiais renováveis, recicláveis e biodegradáveis para criar novos produtos. No Brasil, 100% da matéria-prima é fibra reciclada”, diz Manuel Alcalá, CEO da Smurfit Kappa Brasil.

O design sustentável é o pilar do desenvolvimento de embalagens de papelão ondulado da companhia. “Temos quatro centros de cocriação dedicados ao desenvolvimento de embalagens mais sustentáveis e eficientes. Esse trabalho é feito junto com os nossos clientes, com foco na produção de embalagens mais leves, com maior resistência, adequadas às suas necessidades”.

Como parte do Better Planet Packaging, a Smurfit Kappa inovou ao lançar em embalagem de papelão ondulado com protetores feitos do mesmo material que garantem a segurança do produto durante o transporte e manuseio. “É uma embalagem monomaterial que facilita a reciclagem e que tem tudo para crescer junto com o boom do e-commerce, que no Brasil expande a mais de dois dígitos”, acredita o CEO.

Alumínio certificado é uma tendência

Sustentabilidade é o alicerce de toda empresa que quer crescer hoje e no futuro. “Os consumidores estão consumindo mais e escolhendo embalagens melhores para a economia circular. Eles estão mais sensíveis à questão da sustentabilidade”, diz Estevão Braga, gerente de sustentabilidade da Ball.

Em 2020, o Brasil produziu 32 bilhões de latas, representando um crescimento de 7%. A reciclagem de latas se manteve estável, atingindo 97,4%. “A conclusão que chegamos é que temos infraestrutura para capturar o valor da lata usada e transformá-la em uma nova lata”.

O uso de alumínio certificado é uma tendência. “Somos pioneiros no fornecimento das primeiras latas de alumínio com certificação ASI do mundo para a cervejaria Damm. A certificação garante produção, fornecimento e gestão responsável e sustentável do alumínio ao longo de toda a cadeia de suprimentos, cobrindo todas as formas de uso do metal”, destaca Braga.

Fundos de investimentos para economia circular e créditos de reciclagem

“Sustentabilidade é a maior oportunidade do nosso século. A economia circular é um tópico muito importante e uma das maiores revoluções”, afirma César Sanches, diretor de sustentabilidade e marketing do Valgroup.

Há algumas megatendências relevantes que movem as empresas que buscam tornar-se Net Zero e fazer a transição para a economia circular. “Mas, quero destacar a mudança do modelo de negócio Shareholder Primacy para Stakeholder. Um reflexo disso é a disparada dos fundos de investimentos focados em economia circular. As análises financeiras estão cada vez mais incluindo o impacto ambiental nos critérios de avaliação de riscos de um negócio”. Ele continua: “Essa transformação tem sido muito importante para o desempenho das empresas. Há muitas oportunidades para companhias de capital aberto que têm metas ambientais audaciosas”.

O papelcartão da Papirus tem total rastreabilidade. A porção virgem das fibras é certificada pelo FSC® e os materiais reciclados utilizados na linha Vita e Vitacycle têm total rastreabilidade, desde a origem, provenientes de cooperativas e aparistas, certificada pela cleantech Pólen. “As fibras pós-consumo são transformadas através da tecnologia blockchain em créditos de reciclagem que são transferidos para os brand owners que utilizam o papelcartão reciclado da empresa. É uma forma de ampliar o uso do material reciclado e promover a economia circular”, afirma Christian Kroes, gerente de produto e assistência técnica da Papirus.

Reciclagem

Até quando? Toneladas de lixo orgânico foram encontradas em praias do Rio Grande do Norte recentemente. Isso reflete a nossa displicência com os resíduos. O material agora não tem dono. É um jogo de empurra. “É preciso assumir o problema e resolver. Temos que usar a frase da Lei de Lavoisier: “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, afirma Cláudio Marcondes, professor do Instituto de Embalagens.

Existem três tipos de reciclagem: mecânica, química e energética. “No Brasil, a reciclagem mecânica é bastante utilizada para latas e embalagens plásticas. Há reciclagem química de PET. Já a reciclagem energética não é tão comentada por aqui. É muito comum no Japão que emprega a tecnologia para iluminar a cidade”.

A Indorama possui 15 plantas de reciclagem de PET localizadas na Ásia, América do Sul, América do Norte e Europa. Até 2025, a meta da empresa é reciclar 750 mil toneladas de garrafas/ano, o que equivale a cinco milhões de frascos por ano. “Em 2020, reciclamos 220 mil toneladas de garrafas/ano”, revela Flávio Assis, gerente do site de Juiz de Fora da Indorama. O executivo também anunciou uma novidade para o mercado de alimentos que é a tecnologia de barreira ao oxigênio Oxyclear que é PET monocamada. “Garante shelf life superior a um ano sem o uso de náilon. A novidade já é utilizada no Brasil na embalagem do ketchup Heinz”.

Em 2020, o Grupo Evertis incorporou 33 mil toneladas de PET reciclado em suas embalagens. “O Brasil contribuiu entre 7% e 8% desse volume total. O crescimento da demanda de PET PCR já é significativo em 2021, com taxa entre 60% e 70%. É uma tendência muito forte e veio para ficar”, acredita Luciano Papeschi, diretor comercial da Evertis Brasil.

Recentemente, a Evertis Brasil investiu em uma nova tecnologia para uso de conteúdo PCR que vai permitir ter um PET reciclado com maior qualidade quando comparado às resinas PCR disponíveis no mercado, além de certificar todo o processo. “O arranque está previsto para o início de 2022”, acrescenta.

José Bosco, presidente da Terphane, explica: “Estamos inseridos na indústria do plástico, por isso temos que ter um protagonismo maior para a sustentabilidade. O desafio do setor é reduzir o impacto do plástico pós-consumo. A embalagem flexível é uma solução consolidada no mercado. É a que utiliza menos material, mas a sua reciclagem é um gargalo”.

O executivo destaca uma das soluções sustentáveis desenvolvidas pela empresa. Trata-se do filme de poliéster Ecophane que utiliza mínimo de 30% de resina PET PCR grau alimentício aprovado pela Anvisa. “O produto reduz a pegada de carbono e o uso de matérias-primas fósseis”.

PNRS não saiu do papel

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não é eficaz quanto à redução de geração de resíduos sólidos. Em 2019, o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos, representando um crescimento de 18% em relação ao ano de 2010. “Houve uma melhora discreta na coleta e destinação dos resíduos sólidos, mas os lixões que deveriam ser extintos até 2014, ainda permanecem em 3 mil municípios”, analisa Ricardo Garcia, especialista em meio ambiente da Fiesp.

O Workshop online Embalagem e Sustentabilidade foi patrocinado pela Ball, C-Pack, Evertis, FuturePack, Indorama, Papirus, Smurfit Kappa, Terphane e Valgroup.